Mulheres. A luta por espaço no ambiente dos homens nas eleições.
Rômulo Costa
A representatividade de mulheres nos espaços de poder da política nacional obedece a uma equação nada justa. Enquanto elas são maioria na população brasileira - 4,5 milhões a mais que os homens, de acordo com a última projeção do IBGE - são menos representadas em espaços de poder político, como o Congresso Nacional.
A desigualdade se evidencia nos números. Na últimas eleições municipais, em 2016, apenas 11,8% das prefeituras foram ocupadas por mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A mesma disparidade na Câmara dos Deputados. Dos 513 assentos, apenas 54 foram conquistados por mulheres (10,5% do total). No Senado, são 13 mulheres e 68 homens.
Em busca de aumentar a representatividade feminina, algumas mudanças, como a cota de 30% para as candidaturas de mulheres, tentaram viabilizar as candidaturas e a consequente eleição feminina, mas não foram tão eficazes nesse propósito. Mais recentemente, uma nova mudança - dessa vez envolvendo a questão do financiamento de campanhas eleitorais - evidenciou a resistência dos partidos em admitir uma política de igualdade na distribuição dos recursos, o que pode também estar por trás da dificuldade feminina em ver como real essa representação.
Por decisão unânime, o Tribunal entendeu em maio que as siglas deverão destinar pelo menos 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para as candidaturas femininas. O mesmo percentual deverá ser respeitado no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Ainda durante a discussão das propostas, as siglas torceram o nariz e tentaram inviabilizar a mudança. Sem sucesso. A decisão passa a valer nas eleições de outubro e tenta resolver uma reclamação histórica de mulheres que se aventuram em disputas eleitorais: a competitividade.
A socióloga Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), entende a mudança como um avanço ao passo que, para uma candidatura ser considerada viável, os recursos são fundamentais, mas ela defende uma mudança maior e que envolva, principalmente, os partidos.
“O que temos visto na execução da política de cotas é que, na maioria dos casos, isso é uma mera formalidade. Os partidos organizam chapas que têm os 30% das candidaturas femininas, mas só para garantir a eleição de homens”, afirma. “Boa parte das mulheres que disputam, nem voto recebe”, pondera.
A professora, contudo, avalia que as novas normas permitirão um acompanhamento mais transparente dos recursos, o que é importante para perceber se as siglas, de fato, têm apostado e investido nas candidaturas femininas. Monalisa pondera que a mudança não deverá repercutir, de imediato, na quantidade de mulheres eleitas.
A cientista política Paula Vieira acompanha o pensamento da pesquisadora e defende que o desafio não envolve legislação apenas, mas uma mudança cultural e política. “É uma transformação que deve acontecer também dentro dos partidos. O desafio é colocar essas mulheres como competitivas. Elas precisam se sentir empoderadas para disputar esses espaços de poder”, considera.
Colaborou Wagner Mendes
NÚMEROS
3o%
É a cota de candidatas mulheres que os partidos são obrigados a garantir nas chapas
REPRESENTATIVIDADE
A operadora de telemarketing Débora Layannne Oliveira, 19 anos, não concorda que ainda existam poucas mulheres eleitas no Congresso Nacional. Para ela, a equidade deve ser uma meta. “Deveria ser pelo menos a metade de mulher e a outra de homem”, avalia. Ainda que o número de mulheres ainda seja pouca na Câmara e no Senado, Débora diz que reconhece o esforço das mulheres que ocupam os cargos na tentativa de defender as pautas do interesse delas. “Para mim, é como se elas fosse porta-vozes mesmo”, afirma.
FORTALECIMENTO
A pedagoga Ludmila Madureira, 22 anos, diz que observa a dificuldade das mulheres que ocupam os cargos eletivos de encaminhar pautas e discussões. “Como são minoria, elas não têm voz. As ideias delas quase nunca são ouvidas ou consideradas. O que pesa mais é o machismo”, entende. Segundo ela, é preciso aumentar a participação feminina na Câmara, na Assembleia e no Senado para, em maior quantidade, elas próprias se fazerem ouvidas. Ludmila também acredita na formação de novas lideranças. “As mulheres precisam se sentir capazes de enfrentar essa disputa. Isso vai fazer com que as pessoas percam a ideia de que só homem tem pulso firme e sabe defender pontos de vista”.
INTERFERÊNCIA
A costureira Cláudia Targino, 53 anos, diz que não se sente representada pela pequena quantidade de mulheres que ocupam espaços de poder na política. Isso interfere em discussões que são próprias das mulheres. “Não entendo como homem pode querer interferir em discussões sobre o aborto e licença maternidade, por exemplo, que são exclusivamente femininas”, avalia. Para ela, as candidatas enfrentam grandes dificuldades dentro dos próprios partidos para se fazerem ouvidas e isso precisa mudar. “Os homens se fazem fortes dentro dos próprios partidos. Muitos deles colocam suas esposas e filhas como forma de permanecer no poder. Eles querem ter domínio sobre elas”, disse.
Fonte-O Povo.Online.
Blog Nilson Técnico Bosch.
Nenhum comentário:
Postar um comentário