Comemorada nesta quinta-feira (29), data tece reflexões acerca da relevância do objeto e das ressonâncias dele no cotidiano brasileiro.
Seja de ficção ou não, disponível na versão física ou digital, o livro é um item indispensável para uma melhor compreensão do mundo e de si. Além de permitir o acesso a histórias de variadas naturezas, é também instrumento de contato entre culturas, hábitos de vida e costumes de inúmeras épocas e sociedades.
Não sem motivo, em solo brasileiro, há uma data específica para a coroação desse farto legado deixado por ele: trata-se do Dia Nacional do Livro, comemorado nesta quinta-feira (29).
A efeméride nasceu em virtude da fundação da Biblioteca Nacional (RJ), a maior da América Latina e uma das maiores do mundo, cujo evento aconteceu em 29 de outubro de 1810.
A fim de tecer reflexões sobre a relevância do momento, o Verso convidou cinco escritoras e escritores cearenses para responder à seguinte questão: “Por que é tão importante celebrar o Dia Nacional do Livro?”.
Sabrina Morais, Mailson Furtado, Kah Dantas, Dércio Braúna e Julie Oliveira passeiam por entre diferentes questões para situar o motivo. Confira:
Sabrina Morais
... e como se faz importante celebrar O LIVRO, não só este e neste dia. Como se faz subversivo também! Num país onde o hábito de ler é revolucionário, porquê nos é negado e quando me refiro à nós, é nós pobres, negres, de periferia. A burguesia tem livre acesso à leitura. Livro é luz, É poder, é liberdade! Este ano, se faz ainda mais necessário celebrar o Livro, quando um Desgoverno quer taxar nossos livros. É importante celebrar também os saraus de periferia, no qual estes, forma novos e apaxonades leitores. Celebrar as bibliotecas comunitárias, no qual estas, possibilita viagens e mundos novos! Enfatizar que é na periferia que está o maior número de jovens leitores, segundo pesquisa deste ano. Um Viva às publicações independentes, às editoras independentes, e As mulheres que lançam sua escrita ao mundo! Viva ao livro!
Sabrina Morais, 24 anos, natural de Maracanaú (CE), é poeta, atriz, performer e produtora cultural. Atualmente, faz parte da coletiva de artistas negras de Fortaleza e região metropolitana Sarau das pretas - Pretarau!, e publica suas escritas no perfil @pele.sentidos.temperatura, no Instagram. Tem poemas espalhados por algumas antologias e, recentemente, foi curadora na antologia " O amor nos tempos de lonjura", publicada pelo selo Miradajanela (mini-biografia enviada pela escritora)
Mailson Furtado
Eis o livro, e mulheres e homens se fizeram eternos: guardou-se o tempo, os dizeres antes deixados ao vento, e o que não cabia em canto algum. Cá o livro, e seus tantos encontros: pedaços de vida, caminhos, vivências sempre distintas qualquer que seja a pessoa. Assim, festejar o Livro é celebrar a experiência humana que se constrói a cada dia e (ainda) com tantos livros a atravessarem esse trilhar. Viva este dia. Viva! e vivamos os livros sempre.
Mailson Furtado (@mailsonfurtado/ mailsonfurtado@gmail.com) é cearense. Autor, dentre outras obras, de “à cidade”, obra independente vencedora do Prêmio Jabuti 2018 - categoria Poesia e livro do Ano. Em Varjota-CE, cidade onde sempre viveu, fundou a CIA teatral Criando Arte, em atividades desde 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, além de produtor cultural da Casa de Arte CriAr. (mini-biografia enviada pelo escritor)
Kah Dantas
Hoje, mais do que nunca, quando obras literárias, leitores e autores têm andado sob o ataque da ignorância e do obscurantismo, é preciso não apenas celebrar o Dia Nacional do Livro, mas convocar todos a fazê-lo, em defesa desse objeto mágico que, há séculos, tem aberto caminhos, erguido pontes, conduzido embarcações e traçado rotas nos céus, através de universos que não se podem contar, tantas vezes salvando as nossas vidas, pelo poder da imaginação, das ameaças do mundo real.
Kah Dantas, cearense, autora dos livros Boca de Cachorro Louco e Orgasmo Santo (mini-biografia enviada pela escritora)
Dércio Braúna
É que eles, os livros, podem “lançar mundos no mundo” – já cantou Caetano Veloso. Celebrar uma data para esse “objeto transcendente” é celebrar essa perigosa (perigosíssima) capacidade criadora daquilo que, em princípio, é mudo, mas uma vez aberto, uma vez em processo de transcendência dessa mudez do papel para os indevassáveis caminhos da mente do leitor, faz justamente isso: cria mundos e faz repensar o mundo que temos. Mas celebrar esse dia traz também uma necessidade, que é a de pensarmos porque esse objeto está tão distante da maioria dos brasileiros. É preciso indagar as ausências: de bibliotecas vivas, dinâmicas; de livrarias por toda parte; de espaços para falar dele (o livro). E essa necessidade é ainda mais urgente nesse nosso agora, em que vemos por aí (as redes insociáveis estão aí para nos fazer ver) fervorosos pregadores de fogueira para os livros. Porque livro é uma perigosa possibilidade de liberdade, nunca um “luxo”.
Dércio Braúna (1979, Limoeiro do Norte-CE) é bancário e historiador, com estudos dedicados às relações entre história e literatura. É autor de diversas obras poéticas, dentre as quais “Metal sem Húmus” (2008), “Aridez lavrada pela carne disto” (2015), “Escrevivências: livro de vidas imaginografadas” (2017); da reunião de contos, “Como um cão que sonha a noite só” (2010); de obras ensaísticas, entre as quais “Nyumba-Kaya: Mia Couto e a delicada escrevência da nação moçambicana” (2014), “A assombração da história” (2015) e “Sociedade dos poetas vivos” (2018). Tem ainda participações em coletâneas (poéticas e ensaísticas), como “Cinco inscrições da mortalidade” (2018), “Resistências escritas” (2019), “Flor de resistência” (2020), “Em torno da narrativa” (2019). Seu último livro, “Esta solidão aberta que trago no punho” (201)], está entre as obras semifinalistas do Prêmio Oceanos de Literatura 2020. (mini-biografia enviada pelo escritor)
Julie Oliveira
Celebrar é lembrar, honrar, é repetida vezes exaltar a importância.
Como ‘cria’ dos livros que sou, como alguém que devo minha vida a eles, escreveria muito mais que um parágrafo sobre esses valiosos portais ainda tido como meros objetos. Do muito que poderia dizer, penso que é indispensável refletir nesta data sobre o contexto atual do Brasil, um momento onde infelizmente os livros têm sido relegados dos espaços públicos mediante uma política pública de valorização da ignorância generalizada. Assim, celebrar o Dia Nacional do Livro é efetivamente reconhecer que nenhuma sociedade pode evoluir sem conhecimento, sem acesso, sem democratização do livro e da leitura. Logo, em tempos de fake news, quem lê livro é rei, ou melhor, é inimigo do rei. Para este dia, meu desejo é ver o livro no seu devido lugar, isso é: em todos os lugares! Livres e acessíveis de fato a todes!
Julie Oliveira é escritora, poeta cordelista, pedagoga, produtora cultural e editora. Fundou o coletivo e selo editorial Cordel de Mulher, possui 10 livros editados e distribuídos nacionalmente em programas de educação. (mini-biografia enviada pela escritora)
Fonte-diariodonordeste.verdesmares.com.br
Blog Nilson Técnico Bosch.
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