Brasil é duro com a Venezuela e conivente com Trump, diz especialista.
O alinhamento automático com os EUA não traz necessariamente benefícios ao País, afirma Filipe Mendonça, professor de Relações Internacionais.
Nunes Ferreira e Pence: serventia da casa
O vice-presidente americano, Mike Pence, desembarcou na manhã da terça-feira 26 no Brasil para uma visita de dois dias que o leva a Brasília e Manaus. As negociações com o Planalto envolvem a situação de cerca de 50 crianças brasileiras separadas de seus pais na fronteira dos Estados Unidos, a crise na Venezuela e o uso por parte dos americanos da Base de Alcântara.
Esta é a terceira visita do vice-presidente americano a países da região e a primeira ao Brasil. Na avaliação de Filipe de Mendonça, professor de Relações Internacionais na Universidade Federal de Uberlândia, as negociações sobre a Venezuela são atualmente "o único assunto em que o Brasil tem algo a dizer no plano internacional". Por outro lado, a situação das crianças brasileiras detidas em abrigos nos EUA se tornou um desafio nas relações bilaterais.
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"Nós esperamos, no mínimo, uma reação formal do governo brasileiro, mas tenho sérias dúvidas. A diplomacia do chanceler Aloysio Nunes Ferreira é muito alinhada com os interesses norte-americanos", nota o especialista. Em outros tempos, acredita Mendonça, o Brasil teria uma reação ríspida diante desta flagrante violação dos direitos humanos (a retenção das crianças).
"O chanceler disse apenas que a política de Trump era cruel", recorda. "Nossa diplomacia atualmente é muito seletiva, ela fala duro quando o assunto é a Venezuela, mas é muito conivente quando os assuntos envolvem os Estados Unidos, para não dizer que é subserviente", critica o professor de Relações Internacionais da UFU.
Na opinião do analista, um alinhamento automático com o governo americano não traz necessariamente benefícios ao Brasil.
"No governo Trump, esse alinhamento parece não ter dado resultado nenhum, como pudemos ver no caso das sobretaxas ao aço. É preciso ter uma leitura mais pragmática, considerando que a ordem econômica tem mudado para a Ásia. Não acho que devemos ignorar os EUA, mas as relações do Brasil hoje com a China são mais importantes. Sem um tratamento crítico por parte da diplomacia brasileira em relação aos EUA, estamos diante de um movimento puramente ideológico que não traz necessariamente vantagens econômicas e políticas para o Brasil", opina Mendonça.
Brasil contribui para crise no Cone Sul
Para Mendonça, o Brasil tornou-se tão irrelevante nas grandes discussões de política internacional, devido aos sucessivos escândalos políticos, que apenas a gravidade da crise na Venezuela faz o governo Trump se interessar pela principal liderança do Cone Sul. Na visão da diplomacia americana, a crise política, econômica e humanitária na Venezuela, que provocou o deslocamento de 2 a 3 milhões de venezuelanos para a Colômbia e o Brasil, representa uma grande ameaça à estabilidade da região.
"Temos um chanceler que tem trabalhado para isolar a Venezuela no Mercosul, que trabalhou para esvaziar a Unasul", destaca. "Então, não dá para pensar em soluções à crise venezuelana sem conversar com o Brasil", explica o especialista. O professor da UFU acredita que devido aos interesses relacionados ao petróleo e à instabilidade causada pelos refugiados, o governo Trump tem "disposição e coragem" para tomar medidas mais agressivas contra Caracas.
"Pence poderá propor ao Brasil a adoção de sanções mais duras contra Maduro, com o objetivo de estrangular a economia venezuelana. A diplomacia de Temer tende a ser conivente com esse tipo de estratégia, como vimos até agora pelas ações de Aloysio Nunes, mas a situação é complexa pelo risco de agravar ainda mais a situação dos venezuelanos", argumenta.
O especialista lamenta que o Brasil não esteja atuando para a resolução do conflito, ao contrário, "tornou-se parte ativa, agindo de maneira a agudizar ainda mais a crise na região".
Pence visitará refugiados venezuelanos em Manaus
Depois de se reunir com Temer na terça 26 no Planalto e de participar de um almoço oferecido pelo Itamaraty, o vice-presidente americano vai a Manaus visitar o centro de acolhida de refugiados "Santa Catarina".
De acordo com o embaixador brasileiro Fernando Simas Magalhães, Brasil e Estados Unidos têm compartilhado esforços para encontrar uma saída democrática ao litígio com Caracas. Washington tem dado contribuição, inclusive financeira, para os países afetados pela chegada de venezuelanos, relatou.
É por esta razão, segundo Simas Magalhães, que Pence visitará Manaus. "Para ver como estamos nos organizando no atendimento a esses deslocados, a maneira como estamos oferecendo uma atenção digna, solidária, atenção jurídica e legal aos venezuelanos", completou.
Uso da Base de Alcântara
Brasil e Estados Unidos também vão costurar as negociações para o uso americano da Base de Alcântara, principalmente para o lançamento de satélites. As discussões estão em fase preliminar e uma prioridade no diálogo são as salvaguardas legais e tecnológicas que buscam proteger a propriedade intelectual americana e a soberania nacional.
O diplomata brasileiro admitiu haver um interesse do país e das Forças Aéreas em alcançar um acordo. "Temos ali um filão de mercado extraordinário", destacou.
Alcântara tem a localização ideal para os lançamentos porque está muito perto do Equador. Isso permite economizar até 30% do combustível ou levar mais carga.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Brasil e Estados Unidos chegaram a um acordo para o uso da base, mas ele foi bloqueado pelo Congresso, que considerou o acerto conflitante com a legislação brasileira.
Fonte-CartaCapital
Blog Nilson Técnico Bosch.
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