Lula não deve exercer influência decisiva na escolha do candidato…
Com o título “Lula e os outros”, eis artigo do publicitário e escritor Ricardo Alcântara. Ele faz uma avaliação das pesquisas presidenciais e arrisca dizer que o ex-presidente, em razão de um cenário pulverizado, não influenciaria tanto na escolha do candidato. Confira:
Tão fecunda foi sua passagem pela presidência que, oito anos depois,
Lula da Silva é ainda o centro de gravidade em 2018. Não será candidato e
ele sabe: a Lei da Ficha Limpa é explícita no veto a condenados em
segunda instância. Seu nome permanece no cenário de disputa por objetivo
estratégico: preservar seu espólio eleitoral para transferi-lo para
outro nome no momento certo. O mais é propaganda.
Candidatos progressistas, Ciro Gomes e Marina Silva comemoram:
pesquisas eleitorais recentes os indicam como herdeiros da maior parte
dos votos de Lula. Os índices ainda modestos dos candidatos mais
alinhados com o ex-presidente (Fernando Haddad, Manuela D´ávila e
Guilherme Boulos) reforçam a tese de que o voto lulista migraria na
direção do centro.
Menos, gente. Há dois aspectos a considerar: qualquer nome indicado
por Lula e apoiado pelos movimentos sociais terá, de saída, uns 15% de
votos, e, numa campanha com uma penca de candidatos, é voto suficiente
para gerar algum protagonismo, e por outro lado, a provável candidatura
de Joaquim
Barbosa tende a dispersar ainda mais o eleitorado reformista.
Pulverizados, ninguém será beneficiado de modo decisivo pelos votos
de Lula: são muitos os que, de algum modo, representam um ou outro
aspecto mais relevante do seu projeto político. Significa dizer, por
outros meios, algo que a esquerda não desejaria ouvir, mas que resulta
de um cálculo: Lula da Silva não deverá exercer influência decisiva na
escolha do candidato, embora exerça influência sobre o discurso de todos
eles.
Claro, no segundo turno sua influencia será maior, mas, ainda assim,
terá efeitos igualmente excludentes porque, tanto quanto sua liderança
eleitoral, a rejeição a ele é também muito expressiva e alguns daqueles
que buscarão representar sua bandeira de combate à pobreza recusarão de
todo modo associar-se aos desvios de conduta que marcaram os treze anos
em que seu partido dirigiu a nação. A ver.
*Ricardo Alcântara
opiniao@opovo.com.br
Escritor e publicitário.
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