terça-feira, 20 de março de 2018

Holandeses falam em adquirir participação no Porto do Pecém

Percorrer de carro a estrada que corta o porto de Roterdã é praticamente uma viagem para os padrões holandeses. São 37 quilômetros desde o ponto em que os primeiros galpões e gruas começam a surgir na paisagem até o fim da via. A distância – menos da metade da rota entre Haia e a capital Amsterdã – dá uma dimensão da grandeza do maior porto da Europa, desbancado como maior do mundo em 2004, pela China.
Os limites do porto de Roterdã, porém, vão além dos Países Baixos e, neste ano, parte da expansão da companhia que administra o empreendimento holandês deverá ocorrer no Brasil.
O porto acaba de obter a licença ambiental e de instalação para a construção do Porto Central, no Espírito Santo. Além do Porto Central, a empresa poderá fechar uma aquisição no Ceará, no Porto de Pecém, terminal de uso privado do governo estadual, já em operação.
“Começamos fazendo uma consultoria, em 2015, e durante o processo surgiu o interesse. Agora, estamos investigando a viabilidade de adquirir uma participação. Isso vai ser definido neste ano”, afirma Duna Uribe, gerente de projetos internacionais do porto holandês.
“Parceria”
Procurado, o governo cearense afirma que o contato com Roterdã “trata-se de uma parceria e não venda”. No entanto, o modelo administrativo que deve reger os contratos e a atuação de cada parte ainda não foi definido.
Os encontros entre representantes dos dois terminais continuam – o último foi na feira Intermodal, em São Paulo – e a expectativa cearense, como já afirmou o governador Camilo Santana, é de uma definição nesta “parceria” ainda neste semestre.
A reportagem buscou falar com o secretário Cesar Ribeiro, do Desenvolvimento Econômico, e com Danilo Serpa, presidente do Porto do Pecém, mas nenhum dos dois retornou as ligações e as mensagens enviadas.
Porto Central
Já a entrada de Roterdã no empreendimento no Espírito Santo se deu em 2014, com a formação de uma joint venture com a brasileira TPK Logística (controlada pela Polimix). Localizado em frente a bacias de exploração do pré-sal, o equipamento tem como prioridade o setor de petróleo, ao menos nessa primeira fase de construção, que se espera para iniciar em breve.
“É o que tem a demanda mais urgente. O Brasil tem um déficit de armazenamento, então será uma solução logística para as empresas”, diz Duna Uribe. Agora, o momento é de firmar contratos comerciais com os clientes para definir o investimento – que havia sido estimado em R$ 3 bilhões para a primeira etapa.
Transição energética
Se no Brasil o foco é petróleo, na Europa a preocupação é encontrar soluções para depender menos de combustíveis fósseis e não perder relevância com a transição energética que grande parte dos países europeus têm vivido. Hoje, cerca de 50% da carga movimentada em Roterdã é de petróleo e seus derivados -naquela mesma estrada que atravessa o porto, Uribe aponta a todo momento refinarias e tanques de gás natural.
Nos últimos anos, a demanda não caiu, mas se estabilizou. “A tendência é de descarbonização na Europa. Precisamos de um plano para sobreviver. Vai melhorar o que existe para poluir menos? Vai atrair outros mercados, de biocombustíveis? Tem muitos projetos em andamento”, afirma Duna.

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